A manhã da última terça-feira, 01, foi um dia especial para as internas do Presídio Feminino (Prefem). Entre boas lembranças e muita emoção, elas lançaram o livro ‘Um outro olhar’, escrito por elas em 2013 e editado pelo poeta Araripe Coutinho após a segunda edição da oficina de poesia na unidade prisional.
A oficina aconteceu em 2013 e foi oferecida dentro do ‘Projeto Florescer’ realizada pelo Ministério Público em parceria com o Presídio Feminino.
O secretário Antônio Hora Filho se mostrou satisfeito com o resultado do trabalho desenvolvido pelo Ministério Público na unidade prisional. “Em nosso entendimento, o processo de ressocialização precisa se iniciar internamente, ou seja, a interna tem de reviver em si o protagonismo de sua própria vida. No diagnostico que fizemos a respeito da população carcerária feminina, nós encontramos um índice muito alto de presas que estão nessa condição por serem utilizadas pelo protagonista do delito que no caso são seus companheiros. Então as mulheres acabam sendo coadjuvantes de suas próprias vidas. No processo desse programa que o Ministério Público em parceria com a Sejuc realiza dentro de nossa unidade, quando a presa passa a escrever e contar sua própria história e ver isso publicado em um livro, isso faz com que ressurja dentro das próprias presas a necessidade de retomar o protagonismo das suas próprias vidas”, ressaltou o secretário.
O Projeto Florescer tem realizado um papel importante dentro da unidade ao oferecer diversos cursos para as internas, desde de corte e costura a oficinas de literatura. Essa ação agrada e envolve não só as internas como também as servidoras do Prefem, que acreditam no projeto como forma de ressocialização. “A gente está lá para operacionalizar essas ações da melhor maneira possível, para que elas se ressocializem, para que elas saiam melhores do que entraram. E a gente sabe disso, que quem entra no presídio feminino hoje sai melhor do que entrou”, explicou a coordenadora pedagógica do Prefem, Edjane Lima Marinho.
A coordenadora ressaltou ainda, que essa é a segunda edição do livro. O primeiro foi lançado em 2012 com a primeira turma da oficina oferecida pelo poeta Araripe Coutinho, que ao perceber como as internas escreviam muito bem, propôs a elas escreverem um livro contando suas histórias, resultando na obra ‘Outras vozes’.
A interna Ivanete Leal, 39 anos, demonstrou o seu contentamento com o resultado do trabalho e o seu carinho pelo poeta. ” Ele era uma pessoa que sempre levava alegria, que chegava com aquele jeito dele, com alegria e espontaneidade, então para nós foi um privilégio, acho que para todas as meninas que participaram dos dois livros. As nossas histórias foram publicadas como realmente nós contamos, então pra gente é muito gratificante poder saber que nossas histórias servirão de exemplo para que outras pessoas não cometam o mesmo erro, é um privilégio muito grande”, concluiu, Ivanete.
A interna, muito contente e emocionada está com expectativa de sair em liberdade o mês que vem e ressaltou a ansiedade de rever sua família, além da gratidão a unidade prisional, o Prefem, por poder ter tido a oportunidade de acesso a cursos que possibilitaram a sua formação escolar, e também profissionalizante. Desenvolveu uma paixão pela prática de “Ponto cruz” e pretende levar como profissão ao sair da unidade.
As internas expressaram o seu carinho pelo poeta Araripe Coutinho recitando poesias do artista, fazendo reviver em suas lembranças os momentos de alegria que passaram com ele durante as aulas de poesia. Suas performances impressionaram o público, que pôde perceber o quanto trabalhos como esse é de grande importância dentro do sistema prisional.
“Acho importante que o Ministério Público mostre que a punição em si mesma deve ser vista apenas como parte de um processo muito mais amplo. Então abrir janelas que permitam um retorno, depois da prisão, de modo que as internas não se sintam motivadas a repetir os comportamentos que a levaram a prisão é fundamental”, explicou o promotor, Luís Cláudio Almeida Santos.
Além do lançamento do livro, os presentes também puderam visitar a exposição fotográfica com fotos das internas sob o olhar da fotográfa Luiza Foz. Suas fotos ilustraram o livro “Um outro olhar” tornando a obra ainda mais sensível.
“Quando Araripe já estava um pouco doente eu fui encarregada de selecionar os textos e me apaixonei pelas histórias e quis conhecer o presídio e então me ofereci para fotografar as meninas e ilustrar o livro. E eu achei muito importante porque a gente, aqui fora, não tem acesso ao que acontece dentro de um presídio, e a gente só ouve falar quando vira notícia nos jornais e essas notícias nunca são boas. E quando você entra lá você ver que são mulheres exatamente iguais a nós, que cometeram um erro, que não tiveram oportunidades como nós, e que por alguma razão foram parar lá, mas que continuam sendo mães, filhas, irmãs”, disse, Luiza Foz.
Foi uma manhã de alegria, emoção e esperança para as internas, que ao participar dessas ações se sentem valorizadas, com a auto-estima estimulada e poder contar sua própria história as torna empoderadas, com esperança de retornar a sociedade com uma nova expectativa de vida.
Fonte: ASN
Imagem: Ascom/Sejuc